27 março, 2007

Prolicem 2006

No evento organizado pelo "Programa de Licenciaturas da UFSM" (Prolicem), apresentamos alguns resultados nas nossas pesquisas em um banner. Aqui abaixo está o texto do banner:


"Projeto Filosofia, Cultura Juvenil e Ensino Médio"


Introdução

Este projeto de pesquisa tem como problema investigar como os alunos do ensino médio concebem a disciplina de filosofia e como interagem a cultura juvenil a cultura escolar e o saber filosófico no cotidiano da escola. Entende-se como importante perceber as características da escola bem como as manifestações culturais contemporâneas, destacando as relações que se estabelecem entre a cultura juvenil, a cultura escolar e o ensino de filosofia.

Objetivo

Identificar as concepções dos alunos do ensino médio em relação a disciplina filosofia e ao saber filosófico. Assim como, identificar as concepções que os alunos têm de si mesmos e dos saberes e práticas escolares.

Metodologia

A primeira etapa da pesquisa consistiu na coleta de dados por meio de questionários, a partir dos quais resultaram gráficos. Estes identificam o perfil sócio-econômico, assim como as impressões dos alunos a respeito da escola e das aulas de filosofia. No ano de 2006 foram realizadas entrevistas com grupos de 8 a 12 alunos por série em duas escolas da rede estadual de ensino de Santa Maria. As questões que compunham a entrevista serviram de auxílio para a compreensão das representações acerca dos alunos em relação ao ensino de filosofia. Concomitantemente a isto, foram realizados estudos bibliográficos a fim de estabelecer uma fundamentação teórica nas análises dos dados coletados na pesquisa.

Resultados

A análise das entrevistas permite destacar aspectos diversos, referentes a qualidade da relação do jovem com a filosofia. A inapetência, por exemplo, de grande parte dos jovens à leitura é um dos nós que temos no centro dessa relação. E um dado desequilíbrio que subsiste entre a linguagem do professor e a do aluno é altamente comprometedor e bem pode ferir os propósitos mais elevados da filosofia na escola, a saber: tornar o indivíduo mais esclarecido em si mesmo, para o mundo e acerca dele. O que foi explicitado pelos estudantes requereu de nós uma análise interpretativa. Percebemos que os estudantes consultados relacionam de forma muito estreita a disciplina de filosofia com uma possibilidade de exposição de seus pontos de vista; ou ainda, quando percebemos entre eles um acordo implícito de “respeito” à opinião alheia, ou seja, uma espécie de acomodação perante às inúmeras possibilidades de visões particulares em relação a este ou aquele assunto.

[Filosofia é] uma maneira de expor nossas idéias. (Aluno do 1ºano)
[...]porque cada um tem uma filosofia diferente ali da outra menina,ali do rapaz. (Aluno do 2º ano)
É porque quando a gente vai filosofar, a gente filosofa à nossa maneira.É nossa opinião que a gente ta colocando. Então, assistindo uma aula ou não, é nossa opinião que vai tá ali. (Aluno do 1º ano)

Quando perguntados sobre as características de um bom aluno de filosofia respondem: “ter concentração”, “prestar atenção”; “ter respeito pelo professor”; “pensar junto com o professor”; “querer aprender”; “ler bastante”; “expor as idéias”. Embora indiquem tais características de um bom aluno de filosofia no ensino médio, muitos alunos dizem que não as têm, que não se portam de maneira considerada necessária. Esta discrepância manifesta-se quando nomeiam as dificuldades que enfrentam nas aulas de filosofia. São elas: “a linguagem usada pelo professor, que é muito culta”; “o fato de o professor tratar de coisas muito antigas e muito teóricas”. O fato de a filosofia fazer muitas perguntas e não respondê-las; acham difícil ter que escrever e ler os textos difíceis em aula. O reconhecimento da filosofia, pelos alunos, como dizendo respeito ao antigo, ao teórico, ao culto, ao abstrato nos encaminha para a inferência que os alunos não estão se “implicando” na aula. Estaria havendo um distanciamento do aluno da aula de filosofia, que poderia ser superado pela produção de problemas com os quais eles se conectem, pelo fato de remeterem a situações de vida cotidiana.

Conclusão

A pesquisa possibilitou a conclusão de que a filosofia, no ensino médio, recebe ênfase como espaço apropriado para o exercício de debates. Mas a flexibilidade atribuída a esse espaço tende a gerar efeitos perigosos, como por exemplo, a imprecaução, sobretudo do professor, na condução do tema ou questão filosófica a ser trabalhada, ou ainda, mesmo quando existe interface entre história da filosofia e questões práticas da ordem do mundo do jovem, pode haver dificuldade em permanecer dentro do assunto estipulado e, por isso, o debate facilmente se transfere para fora do tema. Não menos previsíveis são o inconveniente de opiniões inconseqüentes e os mal-entendidos e desrespeitos que surgem como conseqüência de um precário planejamento das aulas e da baixa produtividade filosófica desses debates. Neste momento da investigação, constatamos que, em muitos casos, a aula de filosofia tem produzido a passividade e a imobilidade mental e corporal do aluno ao invés do seu envolvimento/movimento. A construção de novas realidades pelo aluno é possível. No entanto, ela não ocorrerá sem a compreensão plena de como ocorrem o pensamento opinativo e o especulativo. Também, se o aluno se mantiver apenas no estágio da opinião, porque estará arraigado em perspectivas de senso comum e lutando de forma vaidosa para que seus pontos de vista se mantenham. Faz-se, assim, a maior responsabilidade do professor, qual seja, a de auxiliar na explicitação e compreensão das particularidades da Filosofia e possibilitar o exercício do pensamento filosófico real, sem ensaios, sem medo, pois de que não haja preparo entre seus alunos. A compreensão de qualquer espécie de processo está ao alcance de todo e qualquer indivíduo, desde que se pense nele como alguém que tem, entre suas características essenciais, a inteligência.

"Para o(a) professor(a) de Filosofia"

Sabemos o quanto é urgente a participação do(a) professor(a) no debate sobre a Filosofia como disciplina obrigatória no ensino médio. É hora do professor estar atento as novas pesquisas, propostas e metodologias do ensino de filosofia. Lembrem-se professores: o momento é único, há décadas o movimento para incursão obrigatória da filosofia nos currículos foi iniciado, e agora temos um novo foco. Devemos abraçar a causa de mais qualidade para o ensino de filosofia, tanto tempo esquecido pelas universidades. Este espaço é para isso, tirar dúvidas, criticar e apresentar novas propostas para o ensino de filosofia. Aqui é o lugar do(a) professor(a) se manifestar sobre a filosofia e os seus conteúdos, o Peies/Vestibular, expor suas dificuldades, seus méritos, seus medos e também, espaço para o diálogo com a universidade.
Estamos abertos para o debate, aceitamos sugestões para temas à serem dicutidos, bem como sugestões de eventos ou palestras.
Agradecemos à participação de todos, sejam bem vindos ao novo espaço para o(a) professor(a) de filosofia.

Atividades realizadas em Janeiro I

SOBRE O FILJEM:

O projeto de pesquisa Filosofia, Cultura Juvenil e Ensino Médio iniciou no ano de 2004 e vem desenvolvendo-se de forma regular, tendo como questão de pesquisa: “como os alunos do ensino médio concebem a disciplina filosofia e como interagem a cultura juvenil, a cultura escolar e o saber filosófico no cotidiano escolar”.
Cabe ressaltar o momento de visibilidade e efervescência pelo qual passa a Filosofia, devido à aprovação do projeto de lei que instaura a sua obrigatoriedade no ensino médio , além da inclusão da disciplina em Vestibulares ou em programas especiais de ingresso ao ensino superior, como é o caso do PEIES, criado pela UFSM. Tal situação torna nosso projeto de pesquisa mais urgente e importante, pois se propõe a produzir conhecimento sobre a situação do ensino de filosofia no ensino médio, tomando como referência principal o aluno jovem/adolescente e suas representações, relações e práticas com a disciplina.